segunda-feira, 30 de março de 2015

Formação Flymoon® e encontro com a dança de Campo Grande-MS 2015

Tenho sentido, com imensa alegria, mais e mais conexões entre as atuações poéticas, técnico-educativas e políticas. À medida em que a Flymoon® amadurece, aproximam-se pessoas que me ajudam a entender que este caminho é válido, coerente e compartilhável, não apenas uma "ego-trip" curiosa. Em momentos assim, reencontram-se 'eus' que foram compulsoriamente - e sem vantagem - apartados. O 'eu' da viagem poética e o 'eu' do rigor técnico; o 'eu' que sonha em andar na lua e o 'eu' que oferece o 'Andando na Lua' para quem nem tinha sonhado com isso. Me sinto cada vez mais capaz de oferecer poesia, saúde através do movimento, liberação de padrões nocivos... Me sinto mais e mais acompanhada nesse trilho incerto.
Aproveito horas de aeroporto para agradecer e confirmar também que "o melhor de mim sou eles" (Manoel de Barros), né, Sandra​, Franciella​, Laura​, Mônica Noely​, Lygia​, Solange​? 
Nesse fim de semana de trabalho e conexões, ainda tive a felicidade de ter as portas da dança de Campo Grande-MS abertas para mim, em sua mais linda intimidade. Assisti ao trabalho de pessoas sensíveis, com quem quero muito continuar trocando. Sou grata!


domingo, 29 de março de 2015

Especificidades da contração muscular excêntrica


Aprendi, na monografia de Lívia S. Diniz e Marcelle L. G. de Barros, que: 

[...]A contração muscular excêntrica é caracterizada por muitas propriedades incomuns às demais contrações musculares e por isso é potencialmente capaz de produzir adaptações únicas no músculo (LAST A YO et al., 2000). Estas adaptações envolvem os Sistemas Nervosos Central e Periférico e a estrutura muscular e parecem proteger o músculo de lesões (MCHUGH, 2003). Assim, embora a contração muscular excêntrica danifique o tecido muscular, sendo um dos fatores envolvidos na geração das lesões musculares por estiramento, um treinamento de força que envolva esta contração pode modificar a estrutura do músculo de forma que ele se torne menos susceptível a tais lesões (ASKLING et al., 2003).[...]

O trabalho na Flymoon®, pelas 'inversões' da relação com a gravidade que o arco balançante propicia, é repleto de desacelerações e freios. Riquíssimo trabalho excêntrico em cadeia cinética fechada. 

Vídeos Flymoon® Playlist

sábado, 28 de março de 2015

Healing power through movement / Poder de cura através do movimento


During a lecture on May 21, 2013, in the Auditorium of UFBA Lecture Pavilion III, Ondina Campus, Dr. Bessel van der Kolk, psychiatrist, professor of medicine at Boston University, told us about how the central nervous system reacts to trauma. He explained that from the trauma, the left lobe of the brain, responsible for curiosity, development of thought and language, is completely knocked out. The limbic system - the most primitive one, responsible for vegetative functions: hunger, thirst, sleep - is activated, attempting to recall the trauma, which affects systems that cannot be controlled by rational will. So the traumatized person becomes depressed, loses control over sleep, hunger and its vegetative functions and  experiences symptoms such as insomnia and eating disorders.
Recent studies suggest, according to Dr. Bessel van der Kolk, that bodily activities involving relationship - such as contact improvisation, capoeira and martial arts - favor the interpersonal rhythm through movement and provide respiratory changes, mobilizing back to the prefrontal part of the brain cortex, which provides broad understanding of the world, anticipates actions and makes relationships possible. Through these practices, the central nervous system is reestablished and the vegetative functions as well as the general regulation of hormones are rebalanced, fostering paths to healing.
Lily Ehrenfried, heiress and star of revolutionary changes on the ways of thinking body and movement, in the early twentieth century, offers us this beautiful statement:
[...] we have never seen a human being modify his/her bodily habits without deeply and definitely changing his/her psyche. [...] (EHRENFRIED, 1991, p.17)
This strict parallelism between psyche and palpable body, indicated by Lyli (Mabel Todd, Gerda Alexander, Ida Rolf and many others who I've been quoting here), makes visible and explicit the potential of movement as a solution for many of our problems in this early XXI century.
These intuitions, studies and statements from those who lived and studied movement, observing in themselves and others the effects caused by the moving throughout life, converge and validate the need for movement.
More people need to know. More people need to believe, practice and give it the proper value. It's on these tracks that I want to go on.
P.S.: I leave here my late homely tribute to the friends, lovers and professionals of the Circus, through the image of Physical Education students of UFBA (Ticiane Calmon), from the class of Amelia Conrado, full of determination, guts and courage to risk on this unstable and poetic way of the Professionals of Movement.





Em palestra no dia 21 de maio de 2013, no Auditório do Pavilhão de Aulas III da UFBa, Campus de Ondina, o Dr. Bessel Van Der Kolk, psiquiatra, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Boston, nos falou sobre como o sistema nervoso central reage ao trauma. Ele explicou que, a partir do trauma, o lobo esquerdo do cérebro, responsável pela curiosidade, desenvolvimento do pensamento e linguagem, fica completamente nockouteado. O sistema límbico - o mais primitivo, responsável pelas funções vegetativas: fome, sede, sono -  fica ativado, cuidando de rememorar o trauma, o que afeta sistemas que não podem ser controlados pela vontade racional. Então a pessoa traumatizada se deprime, perde o controle sobre o sono, a fome e suas funções vegetativas e apresenta sintomas como insônia e distúrbios alimentares. 

Estudos recentes sugerem, segundo Dr. Bessel Van Der Kolk, que atividades corporais que envolvem relação - como contato improvisação, capoeira e artes marciais - favorecem o ritmo interpessoal através do movimento e proporcionam mudanças respiratórias, mobilizam de volta a parte pré-frontal do córtex cerebral, que proporciona entendimento amplo do mundo, antecipa ações e propicia relação. Através dessas práticas, reconfigura-se o sistema nervoso central e reequilibram-se as funções vegetativas e a regulação geral de hormônios, propiciando caminhos para a cura. 

Lyli Ehrenfried, herdeira e protagonista de transformações revolucionárias na forma de pensar corpo e movimento, no início do século XX, nos brinda com essa linda afirmação:

[...] nunca vimos um ser humano modificar seus hábitos corporais sem modificar profunda e definitivamente seu psiquismo. [...] (EHRENFRIED, 1991, p.17)

Esse paralelismo rigoroso entre psiquismo e corpo palpável, apontado por Lyli (Mabel Todd, Gerda Alexander, Ida Rolf e tantas outras e outros que venho citando aqui), torna visível e explícito o potencial do movimento na solução de tantos dos nossos problemas, nesse início de século XXI. 

Essas intuições, estudos e afirmações de quem vivenciou e estudou movimento, observando em si e em outros os efeitos provocados pelo mover ao longo da vida, convergem e validam a necessidade do movimento. 

Mais gente precisa saber. Mais gente precisa acreditar, praticar e dar o devido valor. É nesses trilhos que quero seguir.

p.s.: deixo minha singela homenagem atrasada aos amigos, amantes e profissionais do circo, através da imagem de alunos de Educação Física da UFBA (Ticiane Calmon​), da turma de Amélia Conrado​, cheios de garra, gana e coragem de arriscar esse instável e poético caminho dos Profissionais de Movimento.

sexta-feira, 27 de março de 2015

Educar é criar as possibilidades

Paulo Freire, sempre:

"É preciso, sobretudo, e aí já vai um destes saberes indispensáveis, que o formando, desde o princípio mesmo de sua experiência formadora, assumindo-se como sujeito também da produção de saber, se convença definitivamente de que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção."

Não tem desculpa, não tem justificativa, Paulo Freire já disse em mais de 8 idiomas, milhares já repetiram, precisamos saber e praticar: educar é criar as possibilidades para as descobertas dos educandos; é favorecer a autonomia; é reconhecer que conhecimento se constrói em todos os lugares e com todo o corpo.


"Daí que seja tão fundamental conhecer o conhecimento existente quanto saber que estamos abertos e aptos à produção do conhecimento ainda não existente."

Encarceramentos intelectuais não me representam.
Pedestais glamourosos não me representam.
Adestramentos não me representam.

quinta-feira, 26 de março de 2015

Interrelations web between art, technique, education, health and politics / Teia de interrelações entre arte, técnica, educação, saúde e política

José Antonio de Lima - creator of the Dynamic Postural Reeducation, with whom I had the privilege of having some elevating meetings, arranged by dear Eloisa Domenici - says in his (delicious!) Thesis that:
 [...] As a physician and educator, I like to support the idea that all therapeutic action is only complete when is also manifested as a pedagogical, educational action, assuming as a counterpart that all educational action is only complete if it presents, as a circumstantial result, a "therapeutic" facet [...].
Tatiana da Rosa, a dear friend, says already on the title of her (incredibly beautiful!) Thesis that every poetic process is, also, and therefore, pedagogical.
For Freire an educational activity is necessarily creative. And for Klauss Vianna technical constructions are inseparable from the creative processes.
Among these authors, it is formed a web of interrelations that is very favorable to the visualization of the Intersection Zones between art, technique, education, health and politics, on which Professionals of Movement act and on which I'm interested to understand.
Intersection Zones is a term used by Beatriz de Souza Adeodato, a longtime colleague and currently a professor at the Federal University of Bahia School of Dance. 
(Wow, with this post I realize how vast and rich is the production of knowledge about body, education and movement that has been built over the last decades in Brazil. What a privilege to be part of it!)

José Antonio de Lima, criador da Reeducação Postural Dinâmica, com quem tive o privilégio de ter alguns encontros engrandecedores, proporcionados graças à querida Eloisa Domenici, diz em sua (deliciosa!) tese que:

[...] Como médico e educador agrada-me sustentar a tese de que toda ação terapêutica só se completa ao se manifestar também como ação pedagógica, educativa, assumindo como contrapartida que toda ação educativa só estará completa se apresentar como resultado circunstancial uma faceta "terapêutica" [...].



Tatiana da Rosa, amiga querida, afirma, já no título de sua (incrivelmente bela!) dissertação, que todo processo poético é, também, e por isso mesmo, pedagógico. 

Para Freire, uma atividade pedagógica é necessariamente criativa. E para Klauss Vianna as construções técnicas estão indissociáveis dos processos criativos. 



Entre esses autores, trama-se uma teia de interrelações muito favorável à visibilização das Zonas de Interseção entre arte, técnica, educação, saúde e política, sobre as quais atuam Profissionais de Movimento e sobre as quais me interessa entender. 

Zonas de Interseção é um termo utilizado por Beatriz de Souza Adeodato, colega de longa data e atualmente professora da Escola de Dança da UFBA. 


Nossa, com essa postagem me dou conta da imensa e riquíssima produção de conhecimento sobre corpo, educação e movimento que vem sendo construída nas últimas décadas no Brasil. Que privilégio fazer parte disso!

quarta-feira, 25 de março de 2015


Sempre que estou em Salvador, levo meu filho à escola de manhã cedo e vou ao Estúdio Master Physio Pilates Ondina, para a minha prática diária. 

Neste estúdio me sinto em casa. Este foi o primeiro estúdio do Brasil (e do mundo) a capacitar seus instrutores no método e a ter várias Flymoons® disponíveis para aulas individuais, em grupo ou combinadas com os equipamentos de pilates. 

Todos os alunos do estúdio tem doses de Flymoon® em suas aulas de pilates e é lá onde eu testo todas as novidades. Quando desenvolvo qualquer aula, palestra ou workshop, é com os colegas da Physio Pilates Ondina que compartilho, troco ideias e é deles que recebo os primeiros feedbacks. 

Depois da minha prática diária, muitas vezes volto para casa andando pela orla e, no resto do dia, trabalho na difusão do método, dando palestras e/ou publicando minhas descobertas e reflexões no meu blog e nas redes sociais. 

Desde 2014 eu administro a venda dos cursos no Brasil e no exterior e dedico um tempo à gestão empresarial. Recentemente defendi o meu mestrado e o meu objeto de estudo foi justamente Instabilidade Poética, conceito que venho desenvolvendo a partir da Flymoon® e pressupõe conhecimentos de diversas áreas, por isso continuo estudando apaixonadamente bibliografias da saúde, das artes e da filosofia. Nos fins de semana viajo para a cidade onde acontecerá o curso de formação, onde conheço pessoas incríveis, profissionais que levam a sério o seu trabalho e acrescentam muito ao meu. O curso é super intenso, mas a gratificação é imensa! Paralelo ao trabalho com a formação em Flymoon®, sigo minha carreira como dançarina, coreógrafa e inventora. Um dos meus projetos atuais é o desenvolvimento de um novo equipamento que, assim como a Flymoon®, vai agregar profissionais do condicionamento físico, da arte e da saúde.

Desaprender sobre todas as certezas é o que a Instabilidade Poética propõe

Daniel Becker, Doutor em Artes Cênicas, amigo querido e referência bibliográfica da minha dissertação, ao referir-se à intimidade poético-somática, considera que:
"...realizar um exercício não significa apenas execução mecânica, mas movimentar-se a partir da lente da criação artística."
Necessariamente, ao nos movermos, estamos mobilizando memórias, imagens, fantasias. Dedicar tempo à experimentação de movimento fora dos padrões rotineiros, é uma porta de acesso a esse manancial simbólico que nos constitui. Por tudo o que se move quando nos movemos, a condução de investigação pessoal de movimento requer estímulos adequados, zelo e cuidado. 
As competências necessárias à imersão no movimento próprio, pela escuta do corpo, não são exercitadas cotidianamente na nossa cultura. 
A permissão ao devaneio, ao jogo, à brincadeira; a diminuição da auto-censura e da necessidade de ‘fazer sentido’; a capacidade de seguir a intuição, de acolher o inexplicável; a capacidade de entrega ao incerto e desconhecido, à ociosidade eventual; a capacidade de escuta, de pausa; a capacidade de desapegar-se momentaneamente da auto-imagem são competências que demandam desaprender oito horas por dia, como diria meu querido Manoel de Barros.
Desaprender sobre todas as certezas é parte do que a Instabilidade Poética propõe.
Foto: João Meireles


Foto: Paulo César Lima

quarta-feira, 18 de março de 2015

Raramente pensamos sobre onde estamos até ficarmos perdidos


Ann Cooper Albright, no seu divino artigo Caindo na memória, nos conta que:

Raramente pensamos sobre onde estamos até ficarmos perdidos. Para compreendermos o que nos orienta, nós precisamos experimentar a desorientação, aquela mudança de perspectiva espacial que pode nos ensinar o que nós damos por certo. (ALBRIGHT, 2013, p. 61) 


Instabilidade é um dos elemento mais importantes no desenvolvimento de aulas e experiências com o Método Flymoon®. Defendo a instabilidade como meio de aquisição de habilidades motoras e também como estratégia de criação artística. Transbordando 'funções' motoras ou artísticas, entendo a capacidade de experimentar instabilidade, de se deslocar da sua zona de conforto, como um procedimento de vida, uma atitude no mundo, como um jeito de olhar as coisas de azul (BARROS), capaz de ampliar as formas de apreensão do mundo e, consequentemente, capaz de produzir poesia.

terça-feira, 17 de março de 2015

Profissionais de Movimento - revolução pela intimidade


Venho ouvindo o termo Profissionais de Movimento há alguns anos, no ambiente do Pilates. Adotei rapidamente essa nomenclatura, pela possibilidade inclusiva que ela traz. Ao invés de diferenciar pela classificação específica de área - arte, educação, saúde -, esse termo aglutina, sem prejuízos, hierarquias ou menosprezos, áreas historicamente apartadas, que de fato se encontram através do corpo em movimento. Me interessa muito mais misturar do que classificar; unir do que separar; colaborar ao invés de competir. 

São Profissionais de Movimento aqueles que trabalham artística, pedagógica ou "curativamente" (profissionais da saúde) através do movimento, ou seja: dançarinos, professores de dança, educadores físicos, fisioterapeutas, instrutores de técnicas corporais ou somáticas, desenvolvedores de técnicas corporais, artistas da performance, atletas, professores de artes marciais, às vezes até estudantes - no caso da dança, ou mesmo das artes marciais, a profissionalização pode vir muito antes de um diploma, por outros meios de legitimação própria dessas áreas - e tantos outros.

Acredito que essas diferentes vertentes (arte, educação e saúde), unidas pelo movimento, formam uma potência politicamente transformadora. Pelo movimento, mobilizamos íntima e profundamente as pessoas. Essas mesmas pessoas irão em frente, reverberando nas suas decisões, na educação dos seus filhos e nos ambientes por onde vivem, as transformações pelas quais passaram. É um potencial revolucionário. É a revolução pela intimidade, como aprendi com Mia Couto.

https://flic.kr/p/dfZz3r

domingo, 15 de março de 2015

Trajetória da Poética de Instabilidade à Instabilidade Poética

Em 2012, entrei para a minha entrevista de seleção do mestrado no PPGAC-UFBA para defender meu ante-projeto, chamado: Pensando corpo e movimento a partir de uma Poética de Instabilidade. Durante a conversa eu falei o tempo todo sobre "uma tal" Instabilidade Poética. Jacyan Castilho, queridíssima artista e professora, então me perguntou:
- ... mas vc está falando sobre Poética de Instabilidade ou Instabilidade Poética? por que são diferentes.
Eu não sabia a resposta. Foi a primeira vez em que aquela questão era de fato revelada em voz alta. Até então eu queria tanto conectar todas as minhas experiências poéticas, pedagógicas e políticas, que me deixava apenas escorregar entre uma Poética de Instabilidade e uma Instabilidade Poética, sem me dar conta do que aqueles dois 'mundos' poderiam revelar.

A primeira parte dessa resposta veio em outubro de 2013, com a orientação da minha amiga e 'estrela-guia' durante o mestrado, Valéria Vicente, quando me disse (dentre tantas outras coisas maravilhosas e reveladoras):
- eu acho que está na hora de vc assumir que o seu objeto de pesquisa é isso que vc chama de Instabilidade Poética. Agarre seu objeto, aprofunde, arrisque e defenda ele.

A segunda parte dessa resposta veio no princípio de 2014, num momento crucial, em que fiz uma 'chamada de emergência' aos amigos queridos - orientadores, artistas e companheiros de vida - Nícia Riccio, Adolfo Duran, Vaninha Vieira, Neila Kadhí, Duda dos Anjos e Isbela Trigo e eles vieram me ajudar a montar o quebra-cabeças que estava me atormentando. Numa tarde de muita conversa, risada (e vinhos!), Nícia - sagaz -, depois de muito ouvir e olhar o meu sumário, me falou (mais ou menos assim):
- como é que vc pode falar de Instabilidade Poética tão cedo no sumário, sem isso nunca ter sido introduzido antes? cadê a linha de pensamento que constrói esse conceito? ele não pode simplesmente pipocar aqui do nada. Acho que tem algo que constrói essa Instabilidade Poética que precisa ser explicado antes. - E eu disse: - Sim! Eureca! Bingo! o que existe antes da Instabilidade Poética é a Poética de Instabilidade! - E Nícia disse: - Isso faz sentido. Assim como a inversão da meia-lua deu vida à Flymoon®, a Poética de Instabilidade fez nascer a Instabilidade Poética.

Essas inversões fazem parte da minha trajetória e é através delas que venho construindo meus conceitos.

Gritamos, sorrimos, pulamos de alegria e euforia com o glorioso insight que me ajudou a olhar com novos olhos para tudo o que já tinha escrito e entender finalmente onde se situam esses dois conceitos, frutos da minha trajetória artístico-político-pedagógica. Pude finalizar a dissertação alguns meses depois, com o acompanhamento e a costura de Betti Grebler, orientadora querida, com mais segurança e convicção e ainda aprofundando descobertas pela reflexão compartilhada.

P.S: Bela fez uns desenhos lindos desse momento, que vou ficar devendo. Assim que encontrar, posto aqui!

sábado, 14 de março de 2015

Um novo modo de estar presente no mundo


Expor-se a muitas situações diversas, não habituais e propiciadoras de instabilidade física e desafiadoras para a coordenação motora, [...] não resultam somente em uma reorganização dos músculos profundos e superficiais do corpo, mas num novo modo de estar presente no mundo e numa nova perspectiva acerca desse mundo. [...] (FORTIN, 2011).





sexta-feira, 13 de março de 2015

Os desafios motores propiciam processos de ampliação da inteligência


Quando desestabilizamos o corpo – com o desequilíbrio que nos coloca na iminência da queda; com desafios de coordenação motora; com estímulos não habituais aos sistemas de equilíbrio; com estímulos proprioceptivos não habituais – expomos o Sistema Nervoso Central (SNC) a situações não habituais, novos problemas, para os quais são necessárias reações não habituais.

Desafiando o SNC com novos problemas, são necessários novos caminhos neuronais para solucioná-los. É necessário [...] um processo de organização, que engloba o conjunto de funções cognitivas e que tende a uma forma de equilíbrio, que caminha em direção a certas formas de equilíbrio final [...] (PIAGET, 195148). Este processo é parte do que define a inteligência, segundo Piaget. Os desafios motores propiciam processos de ampliação da inteligência. 
Esse trio arrasa! Tati Chitão, Carla Pyrrho e Fernanda Lima.

quinta-feira, 12 de março de 2015

Nossos corpos são inerentemente instáveis, por serem programados para a mobilidade


A instabilidade é também resultado de adaptações estratégicas para a sobrevivência. Como afirma Mary Bones:
[...] Nossos corpos são inerentemente instáveis, por serem programados para a mobilidade. [...] Os músculos e outros tecidos que mantém o esqueleto coeso, e os órgãos contidos neles, são quase 70 porcento água, tornando-os ainda mais móveis. A instabilidade do design fornece plasticidade corporal suficiente para adaptar flutuações internas da respiração, digestão e outros processos vitais, assim como a variedade de posições que assumimos ao nos movermos. [...] (BONES, 2007, p. 5). 

Ser instável é parte da natureza. Ser instável é parte da nossa adaptação ao mundo. Instabilidade é estratégia de sobrevivência. Por isso, precisamos brincar com ela na vida e na arte; na infância e na maturidade.


Foto: João Meireles

Foto: João Meireles


quarta-feira, 11 de março de 2015

Para cada pensamento apoiado por sentimento, há uma mudança muscular

Em 1937, Mabel Todd já afirmava que:
[...] Vivendo, o corpo inteiro carrega seu significado e conta sua própria história, levantando, sentando, andando, acordando ou dormindo. [...] Para cada pensamento apoiado por sentimento, há uma mudança muscular. [...]

A possibilidade de olhar diferente, a retirada do que é seguro, a desestabilização, em suma, a Instabilidade, favorece a capacidade de elaborar outros discursos e, portanto, constituir novas maneiras de relação. Segundo minha querida Andréa Bardawil (2011):
[...] a desestabilização nos provoca algo de bom: as novas estruturações de pensamento. Portanto, nossas práticas também não serão as mesmas. 
[...] Exercitar o deslocamento do olhar é admitir que se revirem em nós as categorias e dicotomias [...], que se embaralhem as definições e se desconfigurem os significados [...]

Vamos desestabilizar poeticamente!



terça-feira, 10 de março de 2015

Relações entre imaginário, campo simbólico e musculatura postural


Cláudia Damásioartista, professora e pesquisadora da dança nos diz que: 
[...] Os músculos profundos, chamados de posturais, tônicos, ou ainda gravitários, estão no cruzamento dessas várias instâncias do corpo de que já falamos: biomecânica, motora, perceptiva, afetiva, com sua variação tônica criando “estados de corpo” distintos [...].

A ligação entre a instância simbólica e a função dos músculos tônicos, como nos convida a pensar Cláudia Damásio, faz muito sentido com o pressuposto de Lyli Ehrenfried, desenvolvedora da Ginástica Holística, de que há “[...] um paralelismo rigoroso entre o seu físico e o seu psiquismo. [...]” (EHRENFRIED, 1990, p. 12).

Essas intuições, estudos e afirmações de quem vivenciou e estudou movimento, observando em si e em outros os efeitos provocados pelo mover ao longo da vida, convergem e validam a minha intuição sobre a instabilidade como poderosa ferramenta propiciadora de movimento e de reintegração entre imaginário e bem estar, porque a instabilidade é capaz de acionar a musculatura profunda, fora do controle voluntário, gerando respostas para além da racionalidade, que ensinam a nós mesmos; que tornam a experiência surpreendente para nós mesmos. 


Cena do espetáculo Ideias de Teto. Florianópolis, 2010. Foto: Adriana Cunha. 


quinta-feira, 5 de março de 2015

Desafios do educador através do movimento na atualidade


Parecem ser os Profissionais de Movimento, atravessados por tantas áreas de conhecimento, aqueles com ferramentas adequadas para desestabilizar estruturas sociais instaladas e provocar transformações políticas através da transformação do pensamento sobre corpo e movimento.
Desde práticas íntimas, que nos transformam a cada dia, passando pela resistência cultural necessária de continuar dançando, movendo, fomentando o campo, até a batalha política de ocupação, reconfiguração e convencimento de outras esferas sobre a importância vital desses saberes e fazeres.
Afinada com Sylvie Fortin, “(...) Sustento a ideia de que uma modificação nas fontes de saber empreende uma mudança nas relações de poder. (...)” (FORTIN, 2003, p. 163)
Nesta intenção, listo, aqui, alguns desses pressupostos com os quais me afino:
- não há outro lugar para a produção de conhecimento e a consciência que não seja a materialidade do corpo vivo;
- a base da construção da inteligência/pensamento/sentimento é a motricidade;
- corpo é ideologia;
- cada experiência/vivência se corporifica através de movimento corporal visível ou não aos olhos;
- corpo, movimento, imaginário e arte proporcionam complexidades favoráveis a caminhos evolutivos.