quarta-feira, 25 de março de 2015

Desaprender sobre todas as certezas é o que a Instabilidade Poética propõe

Daniel Becker, Doutor em Artes Cênicas, amigo querido e referência bibliográfica da minha dissertação, ao referir-se à intimidade poético-somática, considera que:
"...realizar um exercício não significa apenas execução mecânica, mas movimentar-se a partir da lente da criação artística."
Necessariamente, ao nos movermos, estamos mobilizando memórias, imagens, fantasias. Dedicar tempo à experimentação de movimento fora dos padrões rotineiros, é uma porta de acesso a esse manancial simbólico que nos constitui. Por tudo o que se move quando nos movemos, a condução de investigação pessoal de movimento requer estímulos adequados, zelo e cuidado. 
As competências necessárias à imersão no movimento próprio, pela escuta do corpo, não são exercitadas cotidianamente na nossa cultura. 
A permissão ao devaneio, ao jogo, à brincadeira; a diminuição da auto-censura e da necessidade de ‘fazer sentido’; a capacidade de seguir a intuição, de acolher o inexplicável; a capacidade de entrega ao incerto e desconhecido, à ociosidade eventual; a capacidade de escuta, de pausa; a capacidade de desapegar-se momentaneamente da auto-imagem são competências que demandam desaprender oito horas por dia, como diria meu querido Manoel de Barros.
Desaprender sobre todas as certezas é parte do que a Instabilidade Poética propõe.
Foto: João Meireles


Foto: Paulo César Lima

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